Igor KannĂ¡rio, Ă primeira vista, parece um ser enigmĂ¡tico. Por baixo das tatuagens e por trĂ¡s dos Ă³culos escuros, que sĂ£o abaixados enquanto ele responde as questões, encarando o entrevistador nos olhos, tentamos desvendar o artista que arrasta multidões por onde passa. Encontramos um homem um tanto amargurado. Certo de que ainda nĂ£o recebe o crĂ©dito e respeito que lhe sĂ£o devidos.
Isso fica claro quando ela fala da sua relaĂ§Ă£o com o MinistĂ©rio PĂºblico, que o impediu de sair Ă frente do bloco infantil Ibeji no Carnaval deste ano. “Eu nĂ£o tenho nada pra falar do MinistĂ©rio PĂºblico, atĂ© porque eles nĂ£o disseram nada pra mim. Eu nĂ£o tenho nada a ver com o que eles falaram. Eu acho que eu nĂ£o sou a melhor pessoa pra educar uma criança, mas tambĂ©m nĂ£o estou vendo ninguĂ©m que faça isso melhor do que eu”.
Para ele, as questões que envolvem o evento precisam ser resolvidas Ă s claras, colocando as cartas na mesa. “Se a gente quer respeito, e eu nĂ£o estou falando sĂ³ do Carnaval da Bahia, mas da mĂºsica da Bahia. Se a gente quer respeito, a gente tem que ter limpeza no projeto chamado Carnaval, trofĂ©u DodĂ´ e Osmar, tĂtulos, enfim. NĂ£o organizou a polĂtica? Organiza o Carnaval tambĂ©m. Porque, trabalhar o ano inteiro, pra vocĂª ver uma pontinha entrar e mudar toda a sua histĂ³ria”.
Cantada em coro pela massa que o acompanha como verdadeiros sĂºditos, o seu hit “Depois de nĂ³s, Ă© nĂ³s de novo”, parece ter perdido holofotes para o “ParedĂ£o Metralhadora” de Tays Reis, a voz por trĂ¡s da Vingadora. “VocĂª percebeu que eu nĂ£o precisei nem cantar (a sua mĂºsica). EntĂ£o, se o voto for popular, e a voz do povo for a voz de Deus, a mĂºsica do Carnaval todo mundo jĂ¡ sabe, igual como sabia a do ano passado. Mas essa parede aĂ a gente vai furar. O meu nome Ă© furadeira. Vamos pra cima. TĂ¡ pensando que eu foi abaixar a cabeça, Ă©? Vou nĂ£o, vou pra dentro, vou caminhar”.
Essa persistĂªncia e destemor, segundo Igor, sĂ£o frutos da relaĂ§Ă£o e conexĂ£o Ămpares que ele tem com o seu pĂºblico. “Eu sĂ³ sou com eles o que eles sĂ£o pra mim. Eles demonstram verdade pra mim, eu tenho como obrigaĂ§Ă£o representar e demonstrar verdade pra eles”.
Mais do que um Ădolo, ele parece ter noĂ§Ă£o de que Ă© um exemplo, modelo de sucesso para o povo do gueto. “Eu jĂ¡ coloquei na minha cabeça que eu vou ser sempre martelado, porque eu nunca vou mudar de opiniĂ£o. NinguĂ©m vai conseguir me comprar, porque eu nĂ£o tenho preço. Eu sempre vou ser favela e vou morrer favela. A Ăºnica coisa que vai me calar Ă© quando Deus chegar e disser: Chegou a hora de vocĂª subir. Fora isso, esse Ă© o KannĂ¡rio que eu tenho que mostrar pra todo mundo”.
E quem pensa que a artilharia vai parar por aqui, se prepare. Igor, em um vestĂgio de bom humor que contrasta com o tom sĂ©rio adotado durante a maior parte da entrevista, sorri ao falar dos seus prĂ³ximos projetos: “Se segure, que o KannĂ¡rio vem aĂ dobrado. Se tiver com medo, pode ter medo, que o meu nome vai ser ‘tira sossego’ esse ano”. Preparem-se!