Os sul-americanos são os que jogam mais sujo. Os africanos são ruins na defesa. A Inglaterra sofre da maldição dos pênaltis. Os brasileiros são reis na cobrança de falta.
Os mundiais estão cheios de clichês. Em cada Copa do Mundo, jogadores, treinadores, fanáticos por futebol e comentaristas repetem os mesmos lugares comuns dos torneios anteriores.
Mas existe alguma verdade neles?
Na matéria a seguir, Jonathan Jurejko analisa cinco dos clichês mais ouvidos na Copa do Mundo.
1. Os sul-americanos são os que jogam mais sujo
As seleções da América do Sul ocupam os três primeiros lugares na lista de países que receberam mais cartões vermelhos nos mundiais.
O Brasil recebeu 11, a Argentina recebeu 10 e o Uruguai, 8.
Uma análise no número de faltas concedidas desde a Copa de 1966, com as equipes agrupadas por continentes, revela um quadro diferente.
Apenas a Concacaf, composta pelas equipes das Américas Central e do Norte (16,83) e Europa a (17,37) cometeram um menor número médio de faltas por partida do que os sul-americanos (17,55).
Isso significa que a África é o continente de jogo "mais sujo", com uma média de 18,32 faltas por partida.
Dois incidentes ajudam a perpetuar, entre britânicos, o mito de que os sul-americanos jogam sujo.
O treinador do time inglês campeão em 1966, Alf Ramsey, chegou a descrever os jogadores argentinos como "animais".
Ele ficou furioso com a ousadia dos argentinos. No dia em que os ingleses eliminaram a Argentina nas quartas de final, o capitão Antonio Rattín foi expulso e, incomodado com a decisão, se negou a abandonar o campo. Foi se sentar em um tapete reservado para a rainha.
O jogador da defesa inglesa, George Cohen, disse que os argentinos tinham cuspido, arrancado os cabelos e puxado as orelhas da equipe inglesa.
Em 1986, a reputação uruguaia também não foi favorecida por uma série de manobras um tanto quanto agressivas.
Isso ficou evidente quando o jogador da defesa uruguaia José Batista cometeu uma falta contra o escocês Gordon Strachan e recebeu o cartão vermelho mais rápido na história da Copa: haviam se passado 56 segundos desde o início da partida.
2. Os africanos são ruins na defesa
Depois do terrível desempenho da equipe do Zaire (hoje República Democrática do Congo) na Copa de 1974 (o time perdeu de 9 a 0 para a equipe da antiga Iugoslávia), muitos passaram a acreditar que os africanos não sabem se defender.
Desorganização geral, falta de marcação e ausência de barreira em chutes livres explicam a derrota recorde na história do mundial.
Em três partidas em 1974, o time sofreu 14 gols, o que também lhes assegura o título de pior defesa da Copa.
Esse clichê foi reforçado, em 1990, pela indisciplina da equipe da República dos Camarões, que marcou dois pênaltis em partida contra a Inglaterra nas quartas de final, perdendo por 3 a 2.
No entanto, uma inspeção mais cuidadosa das estatísticas revela que as equipes africanas têm o terceiro melhor recorde defensivo dos mundiais.
Levaram uma média de 1,55 gols por partida, perdendo apenas para a América do Sul (1,28) e Europa (1,31).
3. Brasil é o rei na cobrança de falta
O Brasil fez mais gols por cobrança de falta em Copas do Mundo do que qualquer outro país.
Nove gols com a bola parada fora da área. E a maioria é digna de aparecer em um vídeo com os melhores gols de falta da história da Copa.
Rivelino contra a Alemanha Oriental, em 1974. Dirceu contra o Peru, em 1978. Zico contra Escócia, em 1982, ou Roberto Carlos contra China, em 2002. É possível encontrar estes gols no YouTube.
Talvez os números não surpreendam, se levarmos em conta que o Brasil cobrou 166 faltas próximas da área, muito mais do que qualquer outra seleção.
4. A seleção da Inglaterra é a pior na cobraça de pênaltis
Sim, os ingleses são os piores quando se tratam de pênaltis.
A seleção inglesa participou de três decisões por pênaltis, em 1990, 1998 e 2006, desde que este tipo de decisão foi introduzida pela Fifa para a Copa de 1978.
E perdeu nas três vezes.
Apenas a seleção da Itália também perdeu três por pênaltis, em 1990, 1994 e 1998. Mas, pelo menos ganharam uma vez, na final de 2006 tomando a taça da França.
Mas há um consolo para os ingleses nesta Copa de 2014. Com um aproveitamento de 50% em 14 tentativas, eles estão melhores que a Suíça, que não conseguiu converter nenhuma de suas tentativas.
E o clichê da eficiência alemã também se aplica aqui: conseguiram converter 94,4%, 17 de 18 pênaltis.
Os alemães são os que mais ganharam quando se fala em decisão por pênaltis: em 1982, 1986, 1990 e 2006.
5. As seleções europeias são derrotadas na América do Sul
Esta teoria surgiu depois que nenhuma seleção europeia conseguiu vencer nas quatro Copas disputadas na América do Sul.
E as estatísticas mostram que realmente os europeus têm dificuldades no continente.
Considerando que cada vitória conta três pontos e cada empate, apenas um, as equipes europeias conseguiram 1,34 pontos por partida no Uruguai, em 1930, Brasil, em 1950, no Chile, em 1962 e na Argentina, em 1978.
Menos se compararmos com 1,59 pontos por partida conquistados em torneios na Europa.
O Uruguai organizou e venceu o primeiro mundial e, 20 anos, repetiram a vitória em terras brasileiras.
Em 1962, no Chile, foi a vez do Brasil vencer e a Argentina conquistou sua primeira Copa em casa, em 1978. Ambas as seleções derrotaram equipes europeias na final, Tchecoslováquia e Holanda, respectivamente.
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