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Ovo some da prateleira e vira produto de luxo em vários países

 Os dias do ovo como proteína barata parecem ter ficado para trás. Um surto de gripe aviária fez com que o produto sumisse das prateleiras e ganhasse ares de alimento premium em diversos países, como Japão, Estados Unidos e Nova Zelândia. A mudança não passou despercebida nas redes, onde o novo status se traduz no meme de uma galinha com bolsa Louis Vuitton a tiracolo e chapéu de grande prêmio de hipismo. Mas será que essa falta de ovo pode chegar ao Brasil?

O presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin, afirma que não, já que não há casos de gripe aviária no país:

— Não há risco de faltar ovo no Brasil. Embora a produção tenha apresentado pequena queda ano passado, e vá cair este ano, não temos casos de gripe aviária. E o Brasil exporta apenas 0,5% de sua produção.

No exterior, a crise global de escassez de ovos já provocou situações inusitadas. Na Nova Zelândia, país que consome mais ovos por pessoa do que boa parte do planeta, com 237 unidades por ano por habitante, a proibição de galinhas em gaiolas e a alta de preços levaram muitos neozelandeses a comprar a própria galinha para garantir o suprimento. As vendas de animais e de ração subiram até 190% em alguns sites de leilões.

O caso virou problema inclusive para a associação de padarias do país. A margem de lucro de pavlovas e de outras sobremesas encolheu enquanto o custo do ingrediente disparou.

Não foi caso isolado. Segundo reportagem do New York Times, há agora um novo tipo de “contrabando” na fronteira do México com os Estados Unidos: o de ovos. Agentes da Alfândega e da Proteção de Fronteiras fizeram mais de duas mil apreensões de ovos entre 1º de novembro e 17 de janeiro.

O preço médio de uma dúzia de ovos grandes nos EUA subiu de US$ 1,92 (R$ 9,75) para US$ 4,25 (R$ 21,58) entre janeiro e dezembro do ano passado. No México, o produto sai por, no máximo, US$ 2,71 (R$ 13,76). Mais de 50 milhões de galinhas poedeiras morreram por conta da gripe aviária nos EUA.

Em algumas cidades, o governo soltou alerta nas redes sociais para avisar que é proibido trazer ovo cru de outro país. O custo de oportunidade pode não compensar o risco. Quem for flagrado paga multa de até US$ 1 mil, e o valor é maior se o item for para a comercialização.

No Japão, o preço dos ovos mais do que dobrou em alguns lugares em razão do surto de gripe aviária, mas, na média, a alta foi de 80%. O país abateu dez milhões de aves até a semana passada, segundo o site da emissora NHK.

No Reino Unido e em Portugal, o produto sumiu das prateleiras dos mercados. No Reino Unido, as redes de supermercado Tesco e Lidl impuseram limites de compra de ovos aos consumidores. Com a alta de custos de produção, incluindo a energia elétrica, muita gente saiu da atividade, e o número de galinhas poedeiras encolheu 6% nos últimos meses.

Embora não exista perspectiva de faltar o produto no Brasil, o tradicional carro do ovo com 30 unidades a R$ 10 corre risco de ficar só na lembrança. No ano passado, o produto ficou quase 19% mais caro, segundo o IPCA, a inflação oficial.

O aumento do custo de produção em mais de 100% e a alta no preço de grãos em decorrência da guerra na Ucrânia mudaram o cenário. A produção de ovos no país vem caindo. Em 2021, foram 54,9 bilhões de unidades, neste ano a previsão é de 51 bilhões.

O presidente da Associação dos Avicultores do Espírito Santo (Aves), Nelio Hand, lembra que uma saca de milho, que custava R$ 45, subiu para R$ 155 no estado, o terceiro maior produtor de ovos, tendo perdido a segunda posição recentemente para Minas Gerais. Milho e farelo de soja representam 80% do custo de produção.

— Houve alta da demanda global por esses insumos, depois de quebras de safra, e a guerra na Ucrânia piorou a situação. No Espírito Santo, a produção caiu 12,6% entre 2020 e 2022, mas, nos piores momentos, a redução chegou a 37% — disse.

Santin, da ABPA, explica que o Brasil é livre da Influenza Aviária e deve manter esse status. Ele afirma que o Brasil está preparado (governo e produtores) para fazer barreiras sanitárias caso sejam detectados focos da doença.

Com isso, o Brasil será uma alternativa dos países afetados pela doença para suprir a falta do produto. Por isso, a ABPA projeta alta das exportações com preços mais atraentes no mercado internacional.

Em 2022, o Brasil exportou 9,4 mil toneladas de ovos, queda de 16,5% em comparação com 2021, segundo dados da ABPA, com base nos números oficiais do governo federal. A receita dos exportadores somou US$ 22,419 milhões, valor 24,2% superior na mesma comparação. A previsão é que as vendas ao exterior cresçam até 10% este ano.

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