Colunista fala sobre o talento de Mari Antunes, cantora do Babado Novo
Pela quantidade de mensagens e e-mails que recebi pelo meu mais recente texto, falando sobre de que forma a música baiana morreu, percebi que cumpri o meu papel de alertar ao mercado que estamos em um estado terminal.
Lógico, tirando os mais exaltados que, embebidos no calor da leitura, me mandaram mensagens dizendo que a música não tinha acabado, e que eu não conhecia fulano ou sicrano, citando excelentes artistas não comerciais da nossa música, creio que fora isso, para o mercado enquanto alerta, consegui o meu intuito.
Mas daí, mais uma vez me pergunto: o que estaria sendo feito para a Fênix ressurgir das cinzas? Qual esboço de atitudes o trade iria tomar? Como não iria ficar parado esperando a resposta cair do céu, fui atrás dela e ver o que estava na vitrine. E, procura daqui, procura dali, foi dando uma zapeada no Bahia Notícias que vi uma nota que me chamou a atenção, dizendo que Mari Antunes e Babado novo eram a nova contratação da gravadora Universal Music. Engraçado, é que há dois anos falei sobre essa menina, que na minha concepção tinha tudo para ajudar a alavancar de novo o mercado musical baiano. Lendo a nota e buscando mais informações, soube que a gravadora tinha gostado da voz e da imagem da cantora e, por isso, resolveu apostar no grupo - detalhe para quem não sabe é que, há muito tempo, gravadora alguma coloca mais dinheiro em artista. Por isso, essa contratação valeu muito.
E, procurando saber um pouco mais sobre essa contratação, me deparei com um dos seus produtores, que não satisfeito com as minhas considerações sobre o falecimento do axé, me convidou para ver um pouco do que tanto a gravadora tinha gostado, e que será lançado em Janeiro para todo o Brasil.
Bem, marcado o dia e tendo dado a palavra de não falar de tudo que veria e ouviria a parte pensei: “eu vou lá ver por amizade, mas sei que nada de novo verei, pois já conheço o produto e sua cantora”, mas, achei louvável e digno o esforço do empresário de tentar mostrar que ainda existe vida a ser vivida no axé e, no dia marcado lá fui eu.
Já era fim de tarde, quando cheguei ao escritório da artista. Pensei que ela me receberia de braços abertos e faria o velho e conhecido lobby, ledo engano. Quem me recebe é a recepcionista, que me anuncia e informa que é subindo as escadas e que o “home” já esta me esperando. Ao subir e adentrar a sala me deparo com o empresário com os pés na mesa, o vídeo no ponto, e que de bate pronto me faz a velha pergunta de visita que chega: ‘quer café e água?’ Eu ali, com um pouco de fome pelo horário, já fui logo pensando com a minha gordice: “porque ninguém nunca oferece chocolate quente e suco,aff!”.
Bem, passado esse primeiro momento e entre telefones tocando, shows sendo fechados, cafezinhos e água, começamos a ver o DVD. E olha! Tudo que pensei caiu por terra. Quando comecei a ver o vídeo, lembrei logo da menina a quem tinha acompanhado na sua primeira vez em um trio elétrico, e pude reparar nitidamente a diferença entre o passado e aquela cantora que via ali no palco, cantando para uma considerável multidão, e que estava tudo muito diferente.
Na sala em que víamos o vídeo, eu prestava atenção no que passava na tela, e de forma automática, sem nem virar o rosto, respondia um rápido ‘ham,ham!’ para o empresário, que virava e mexia falava comigo algum detalhe que fingia ouvir para poder ver se ele ficava quieto e me deixava entender o que estava assistindo. E parando agora, de forma clara, três coisas ficaram anotadas em meu caderno como referencial daquela “avant première”. Primeiro, a imponência do porte da cantora, pois lembrei, que no seu primeiro carnaval de salvador, vi uma Mari meio tímida, encantada e feliz, mas assustada, o que no DVD em nada transparece. A tranquilidade e a segurança com que ela entrou no palco me deixou surpreso, pois pensei que iria ver uma cantora meio perdida diante de tamanha responsabilidade, e percebi uma artista segura do seu papel ali.
Segundo, o figurino, pela simplicidade que passou, pois era uma roupa comum – no sentido que pode ser comprada em uma boa loja, e não apenas usada como figurino - e que qualquer adolescente ou jovem adulta poderia usar. Mas, ao mesmo tempo, mesclada com a sensualidade e o porte de uma bela e deslumbrante mulher. Ficou no ar um “quê”, um charme de menina mulher, bem ao estilo Gabriela Cravo e Canela, mais ou menos por aí. Vi inclusive que não havia nada de roupas marcadas e cheias de detalhes faraônicos, apenas dois conjuntos mesclados, com uns “nam!nam!nam!” e adereços de artista no estilo moda casual compuseram o cenário de forma bonita e harmoniosa.
E o terceiro elemento que parei para reparar foi o repertório, que era ali naquele momento pra mim o que mais importava. Das regravações da primeira fase do Babado, que prometi não falar para não estragar a festa, as participações mais que especiais de Xande de Pilares e Carlinhos Brown, passando por momentos muitos legais como a eterna canção da banda de reggae baiana Diamba “Eu piro quando você passa”(Pablo Dominguez e “Me beija” música autoral da cantora Mari Antunes, além da moda do momento, as arrochadeiras. Tudo pareceu para mim muito legal.
Não sei como vai ficar editado, espero que fique bom, pra mim só faltou a música que ela cantou no festival de verão de 2014 com Ivete Sangalo. No mais, gostei do que vi e saí encantado com Mari Antunes.
Há muito aprendi que na música o sucesso pode não estar somente na canção. Sendo assim, se o sucesso estiver também no carisma, na alegria e na beleza, essa banda vai longe.
Luis Ganem
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