Depois de dois meses e meio de pausa, o Papa Francisco retomou na manhã desta quinta-feira, 14, Festa da Exaltação da Santa Cruz, a celebração da Missa na capela da Casa Santa Marta, no Vaticano.
Na homilia o Pontífice advertiu para duas tentações espirituais diante da cruz de Cristo: a de pensar um Cristo sem cruz, isto é, fazer Dele um “mestre espiritual”, e, de outro lado, pensar uma cruz sem Cristo, ou seja, não ter esperança, numa espécie de “masoquismo” espiritual.
O centro da reflexão do Papa foi o mistério de amor constituído pela cruz. Francisco evidenciou que nem sempre é fácil entender a cruz. “Somente com a contemplação se vai avante neste mistério de amor”, afirmou.
E Jesus, quando quer explicá-lo a Nicodemos, como recorda o Evangelho do dia, usa dois verbos: subir e descer. “Jesus desceu do Céu para levar todos nós a subir ao Céu”. “Este é o mistério da cruz”, destacou o Papa. Na Primeira Leitura, justamente para explicar isto, São Paulo diz que Jesus “humilhou a si mesmo”, fazendo-se obediente até a morte de cruz:
“Esta é a descida de Jesus: até embaixo, à humilhação, esvaziou a si mesmo por amor. E por isso, Deus o exaltou e o fez subir. Somente se nós conseguirmos entender esta descida até o fim, podemos entender a salvação que nos oferece este mistério do amor.”
Porém, notou o Papa, “não é fácil, porque sempre existem tentações para considerar uma metade e não a outra. São Paulo disse uma palavra forte aos Gálatas “quando cederam à tentação de não entrar no mistério do amor, mas de explicá-lo”.
Assim como a serpente encantou Eva e envenenou os israelitas no deserto, do mesmo modo foram encantados “por uma ilusão de um Cristo sem cruz ou de uma cruz sem Cristo”.
“Um Cristo sem cruz que não é o Senhor: é um mestre, nada mais que isso. É aquele que, sem saber, talvez Nicodemos buscava. É uma das tentações. Sim, Jesus que bom o mestre, mas….sem cruz, Jesus. Quem os encantou com esta imagem? A raiva de Paulo. Jesus Cristo apresentado, mas não crucificado. Outra tentação é a cruz sem Cristo, a angústia de permanecer lá embaixo, com o peso do pecado, sem esperança. É uma espécie de “masoquismo” espiritual. Somente a cruz, mas sem esperança, sem Cristo”.
Mas a cruz sem Cristo seria “um mistério trágico”, disse o Papa, como as tragédias pagãs:
“Mas a cruz é um mistério de amor, a cruz é fiel, a cruz é nobre. Hoje podemos tirar alguns minutos e cada um fazer uma pergunta: para mim, o Cristo crucificado é mistério de amor? Eu sigo Jesus sem cruz, um mestre espiritual que nos enche de consolação, de bons conselhos? Sigo a cruz sem Jesus sempre me lamentando, com este “masoquismo” do espírito? Deixo-me levar por este mistério do abaixamento, esvaziamento total e exaltação do Senhor?”.
O Papa conclui fazendo votos de que o Senhor dê a graça “não digo de entender, mas de entrar” neste mistério de amor: “depois, com o coração, com a mente, com o corpo, com tudo, entenderemos alguma coisa”.
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