Durante as campanhas eleitorais, nas plataformas da internet, diferente da televisĂ£o e do rĂ¡dio, a comunicaĂ§Ă£o Ă© individualizada e interativa (Ricardo Moraes/Reuters)
As prĂ³ximas eleições podem ficar para histĂ³ria e registrar o fim da era da televisĂ£o aberta como o principal meio de informaĂ§Ă£o dos brasileiros para acompanhar a disputa de votos por cargos pĂºblicos. Especialistas ouvidos pela AgĂªncia Brasil tĂªm como hipĂ³tese a possibilidade de a internet ter mais peso do que nunca na decisĂ£o, e mudar em definitivo, a maneira de se fazer campanha eleitoral no paĂs.
Pesquisadores de comunicaĂ§Ă£o e consultores eleitorais assinalam que os 147,3 milhões de eleitores brasileiros escolherĂ£o seus representantes sob influĂªncia inĂ©dita de conteĂºdos compartilhados nas redes sociais e aplicativos de mensagens instantĂ¢neas, em especial no Facebook e no WhatsApp.
“Tem se especulado que esse pleito possa vir a ser a primeira eleiĂ§Ă£o onde a internet assuma papel protagonista”, resume o sociĂ³logo e cientista polĂtico AntĂ´nio Lavareda, que jĂ¡ trabalhou em mais de 90 eleições majoritĂ¡rias (campanhas para presidente, governador e senador).
Nas plataformas da internet, diferente da televisĂ£o e do rĂ¡dio, que veiculam o horĂ¡rio eleitoral gratuito, a comunicaĂ§Ă£o Ă© individualizada e interativa. Os conteĂºdos sĂ£o mediados pelos usuĂ¡rios, em lugar de vĂdeos e peças sonoras veiculados para grandes audiĂªncias – sem possibilidade de resposta ou de reencaminhamento.
“A mensagem encaminhada, que consegue penetrar em grupos, Ă© mais influente do que aquela que vem pela televisĂ£o”, afirma o estatĂstico e doutor em psicologia social, Marcos Ruben.
FĂ¡bio Gouveia, coordenador do LaboratĂ³rio de Estudos sobre Imagem e Cibercultura da Universidade Federal do EspĂrito Santo (UFES), assinala que “a atenĂ§Ă£o nĂ£o estĂ¡ mais concentrada na televisĂ£o” e, nesta campanha, os usuĂ¡rios “assumem papel de filtros disseminadores”, repassando ou retendo mensagens Ă s pessoas com quem estĂ£o conectadas.
Christian Dunker, professor titular do Instituto de Psicologia da Universidade de SĂ£o Paulo (USP), aponta que a internet “viabiliza informaĂ§Ă£o para uma quantidade grande da populaĂ§Ă£o que estava excluĂda do debate polĂtico”. Segundo ele, “isso ajuda a entender as formas de tratamento, usos de imagem, estratĂ©gias de retĂ³rica intimidativa e bipolarizante [hoje verificados] que eram menos acessĂveis quando tĂnhamos a campanha baseada na televisĂ£o”.
Riscos
Os especialistas nĂ£o desconsideram os riscos da prĂ³xima campanha eleitoral como a circulaĂ§Ă£o de notĂcias falsas, deformaĂ§Ă£o de mensagens, difamações generalizadas e manifestações de Ă³dio e intolerĂ¢ncia.
Para o jornalista MĂ¡rio Rosa, especialista em gestĂ£o de crises de imagem, hĂ¡ forte possibilidade que, em paralelo Ă campanha positiva e com propostas no horĂ¡rio eleitoral, haja forte campanha negativa na troca de mensagens. “O disparo do WhatsApp nĂ£o pode ser monitorado e nem auditado. Podem atacar e nĂ£o vai se saber qual a origem dos ataques”, alerta MĂ¡rio Rosa ao lembrar que “o objetivo da campanha eleitoral nĂ£o Ă© informar, mas convencer”.
Na mesma linha, Christian Dunker nĂ£o afasta a possibilidade, especialmente ao fim da campanha, de serem disseminados “fatos polĂticos que possam vampirizar candidaturas e interferir nos resultados”.
NĂºmeros
O Facebook chegou a 127 milhões de usuĂ¡rios neste ano no Brasil e o WhatsApp tinha cerca de 120 milhões de pessoas ligadas no ano passado (20 milhões a mais do que em 2016). Facebook e WhatsApp nĂ£o informaram o crescimento de usuĂ¡rios que tiveram entre a eleiĂ§Ă£o de 2014 e atĂ© o momento.
Segundo o Sindicato Nacional das Empresas de Telefonia e de Serviços MĂ³vel Celular e Pessoal (SinditeleBrasil), nos Ăºltimos quatro anos, o nĂºmero de usuĂ¡rios de aparelhos celulares 3G e 4G (que permitem acesso a redes sociais) passou de 143 milhões para 188 milhões – diferença de 45 milhões, superior Ă populaĂ§Ă£o da Argentina.
A Pesquisa Nacional de Amostra Domiciliar do IBGE contabiliza que “entre os usuĂ¡rios da internet com 10 anos ou mais de idade, 94,6