No período de 1980 até o mês de junho do ano passado, o Ministério da
Saúde detectou um milhão e 11 mil casos de Aids no Brasil. A síndrome
da imunodeficiência adquirida é causada pelo vírus HIV. E, apesar de
atingir tantos brasileiros, desacelerou no começo deste século. De
acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), do ano 2000 até 2019,
as novas infecções pelo HIV caíram 39%, e as mortes relacionadas ao HIV
caíram 51%.
A meta é ampliar a resposta sanitária e acabar com a epidemia de Aids
e infecções sexualmente transmissíveis (IST) nas Américas até o ano de
2030. E isso se faz com informação, como afirma a psicóloga e
neuropsicóloga Juliana Gebrim.
“Essas pessoas, que tem esses processo de discriminação, são pessoas
que possuem um certo raquitismo espiritual. Muitas vezes por serem
ignorantes – tanta ignorância da pessoa que é bruta, com instintos bem
primitivos e animalescos, ou pessoas que não tem a informação correta,
que estudam pouco, que leem pouco, é uma tragédia em todos os sentidos”,
disse.
Esta quarta-feira (1º) é o Dia Mundial de Luta contra a Aids e a
Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) escolheu como tema “Acabe com
as desigualdades. Acabe com a Aids. Acabe com as pandemias”.
O tratamento, como aquele oferecido gratuitamente pelo Sistema Único
de Saúde (SUS), ficou mais simples e permite que uma pessoa infectada
não desenvolva a doença. Foi o que ocorreu com o Godoy, que atua como
voluntário numa clínica de reabilitação para dependentes químicos.
“Quando comecei a tomar os remédios, eu tomava 16 comprimidos por
dia. E tinha muita diarreia – não podia comer fora porque já tinha que
ir ao banheiro. Mas depois fui trocando as medicações, e hoje não tem
mais nada disso não. (A quantidade de) remédio é bem menor: eu tomo
quatro hoje e está cada vez melhor. E eu estou gordinho até, eu estou
bem de fisionomia e esqueço mesmo que eu tenho HIV”.
Godoy contraiu HIV ao fazer uso de drogas e hoje ajuda outras
pessoas. Ele conta que receber o diagnóstico foi um momento bastante
difícil.
“Eu sempre digo que o HIV salvou a minha vida. Porque foi o meu fundo
do poço, em relação à dependência química. Quando eu recebi a notícia, o
diagnóstico – que eu mesmo li – eu desci bem lá no fundo mesmo para
depois me reerguer, nascer de novo. Então eu consegui ficar limpo, minha
vida melhorou muito depois. Não tenho o que temer. Para mim foi um
renascimento, não uma morte”.
Mas nem todo mundo consegue levar essa vida normal – porque, para
isso, é preciso fazer o teste e, se der positivo, iniciar o tratamento
com acompanhamento médico. A OMS estima que 81% das pessoas com HIV no
planeta conhecem essa condição. E seis em cada 10 infectados pelo HIV
estão indetectáveis, devido ao tratamento com remédios antirretrovirais.
Ou seja, têm cargas virais tão baixas que não transmitem mais o vírus,
pelo menos durante a relação sexual. De 2000 até 2019, mais de 15
milhões de vidas foram salvas por esses tratamentos.
Mas, para quase um quinto dos infectados, a descoberta ocorre tarde
demais, quando a Aids já se desenvolveu. Desde o fim dos anos 1970, mais
de 33 milhões de pessoas morreram por causa da doença em todo o
mundo. A psicóloga e neuropsicóloga Juliana Gebrim lembra que,
independente do estágio da infecção, a pessoa que vive com HIV precisa
de acolhimento.
“Essa pessoa vai passar por vários processos psicológicos. Em
primeiro lugar, pode começar a negar que tem o vírus, vai fazer várias
vezes o teste. Depois, ela vai entrar no processo de muita raiva de si e
talvez do agente ou local onde ela tenha pego. Depois, ela entra em uma
fase de barganha, que ela vai tentando negociar melhoras para ela sair
do quadro. Mas, posteriormente, ela pode entrar no quadro depressivo. E
aí é hora de tomar cuidado, porque a imunidade da pessoa pode baixar no
estado depressivo. E posteriormente, chegar à fase da aceitação”,
explicou.
A OMS avalia que a pandemia de covid-19 agravou as desigualdades
sanitárias e dificultou o acesso aos serviços de saúde. Por isso, a
entidade aproveita o dia de hoje para convocar os líderes mundiais a se
unirem para garantir o atendimento adequado para prevenir as infecções e
tratar as pessoas infectadas pelo HIV.