Padre Fábio de Melo tira Deus do esconderijo do verso no álbum que está gravando no estúdio Cia. dos Técnicos, em Copacabana, bairro da cidade do Rio de Janeiro (RJ), com produção de José Milton. Gravado neste mês de fevereiro de 2017, o disco se chama Clareou, nome do samba de Serginho Meriti e Rodrigo Leite. Lançado por Paula Lima em 2013, mas popularizado nas vozes de Diogo Nogueira e Xande de Pilares em gravações posteriores, o samba que exalta Deus vai abrir o álbum em que o padre cantor e compositor busca comunicação mais imediata com a legião de fiéis fãs. "Clareou é um disco mais simples do ponto de vista melódico, das letras. É um disco com mais perguntas. Eu optei por gravar um repertório palatável que tivesse em sintonia com o meu discurso de hoje", adianta Fábio de Melo ao colunista e crítico musical do G1, em conversa no estúdio.

Gravado no ano em que o artista e religioso de origem mineira festeja 20 anos de carreira fonográfica, iniciada em 1997 com a edição do CD De Deus, um cantador, o álbum Clareoumarca o reencontro de Fábio de Melo com o produtor José Milton, piloto do último elogiado disco de estúdio do padre, Deus no esconderijo do verso (2015), lançado há dois anos com repertório formatado dentro do universo da MPB. "Eu me encontrei com o Zé Milton. A minha música é naturalmente brasileira. Sou brasileiro e gosto de cantar música popular brasileira", ressalta Fábio.

Em Clareou, Fábio de Melo também canta música pop brasileira. Balada de autoria de Roberto Frejat, Maurício Barros e Mauro Sta. Cecília que batizou o primeiro álbum solo de Frejat, lançado em 2001, Amor pra recomeçar é uma das músicas do repertório de Clareou. Neste 20º álbum (o 15º gravado em estúdio), o cantor e compositor optou também por diminuir a dose de músicas autorais para poder dar voz a mais criações alheias. São somente três canções de Fábio – ClaroProteção e Regras da vida – no repertório que inclui músicas pouco conhecidas das lavras de Renato Teixeira (Raízes, lançada em disco em 1992) e dos conterrâneos Telo Borges e Salomão Borges (Poder mágico, música que deu nome a disco lançado por Telo em 2004).

A propósito, a regravação da canção dos compositores mineiros vai soar natural para quem sabe que, no mesmo ano de 2004, Fábio lançou álbum intitulado Tom de Minas, com ecos do som do Clube da Esquina. Tom de Minas é disco de sintonia parecida com a de Clareou, álbum previsto para chegar ao mercado fonográfico em abril deste ano de 2017, em edição da Sony Music, gravadora por onde o padre vem lançando discos anuais desde 2011.


Com música de Dudu Falcão no repertório (Caminhos de mim, balada que batizou o álbum lançado pela cantora Ninah Jô em 2014), Clareou está sendo gravado com time virtuoso de músicos, formado por Cristóvão Bastos (piano), João Lyra (violão), Jamil Joanes (baixo), Jurim Moreira (bateria) e Leo Amuedo (guitarra). O maestro Eduardo Souto Neto arranja as cordas.

Aos 20 anos de carreira como cantor, Fábio já está mais tranquilo ("Eu aprendi a lidar com a minha música") e com menos receios de transitar simultaneamente entre a música e a religião. "Eu somente quero que a minha música seja uma reflexão do que eu preciso dizer como cristão", sintetiza Fábio, como muitos, assustado com os rumos dos acontecimentos no Brasil e no mundo. "Tenho ficado com medo do mundo. Estamos nos afastando um dos outros por diferenças políticas, sociais, sexuais, religiosas...", lamenta o padre.

Com Clareou, padre Fábio de Melo reitera a confiança em Deus para reunir o fragmentado mundo. "Pode a dor uma noite durar / Mas um novo dia sempre vai raiar", sentencia o cantor através de versos esperançosos de Clareou, samba que batiza, abre e sintetiza o disco com o qual põe fé na simplicidade de versos e de melodias para mostrar Deus fora do esconderijo.

(Créditos das imagens: Padre Fábio de Melo no estúdio Cia. dos Técnicos, no Rio de Janeiro, em fotos de Alice Venturi)