A imagem deu a volta ao mundo: um menino sai da água do mar com os olhos
fechados e os braços abertos, em um gesto de impotência, com o corpo coberto
por um saco de lixo, empapado do óleo que há quase dois meses se espalha pelo
litoral nordestino.
O Clarín (Argentina), New York Times (EUA), SVT Nyheter (Suécia),
Hamshahri (Irã) e a Agência France Press (AFP) publicaram a imagem.
Foi registrada pelo fotógrafo Léo Malafaia, da Folha de
Pernambuco, na praia de Itapuama, em Cabo de Santo Agostinho (Pernambuco),
em 21 de outubro, por volta das 11h da manhã. O fotógrafo compartilhou sua foto
no Instagram, junto à uma sequência de registros.
Naquele dia, Everton Miguel dos Anjos, de 13 anos, junto com os quatro
irmãos e vários primos se somaram às centenas de voluntários que retiravam os
resíduos de petróleo cru espalhados na areia ou incrustados nas pedras.
Entrou no mar com uma camiseta, mas a tirou quando viu o corpo
enegrecido. Improvisou uma túnica com um saco de lixo e voltou para a água.
O jovem contou ao fotógrafo que sua mãe, que administra um bar na praia,
brigou com ele quando viu as fotos, publicadas por muitos dos principais
veículos de comunicação pelo mundo.
“Eu tinha pedido permissão para ajudar a limpar a praia e ela me deu,
mas com a condição de que eu não me sujasse!”, disse Everton.
Nesta quinta-feira, quatro dias depois do registro fotográfico, apenas
alguns fragmentos de petróleo eram vistos na praia. Desde o início da
catástrofe, foram recolhidas mil toneladas de petróleo.
O vazamento foi avistado pela primeira vez na Paraíba em 30 de agosto e
desde então foi detectado ao longo de 2.250 quilômetros, chegando a praias
paradisíacas em uma região pobre e fortemente dependente do turismo.
Cerca de 200 localidades foram afetadas. Várias ONGs têm denunciado a
lentidão das autoridades em reagir e a falta de recursos para combater o que
muitos especialistas consideram a pior catástrofe ambiental do nordeste
brasileiro.
Intoxicação
Após a foto do menino coberto por petróleo circular o mundo,
especialistas alertam para o risco de intoxicação. De acordo com o presidente
do Conselho Regional de Química de Pernambuco, Sheylane Luz, substâncias
presentes no petróleo cru estão entre os compostos mais tóxicos do óleo.
A volatilidade do material aumenta o risco de contaminação e por isso,
para a especialista, luvas e galochas não são suficientes para a proteção de
voluntários.
Foram pelo menos 17 voluntários que entraram em contato com óleo
admitidos em um hospital no Litoral Sul de Pernambuco. Os pacientes tinham
sintomas como vômito, enjoo e erupções na pele.
O Conselho Regional de Química de Pernambuco alertou que o contato com
as manchas de óleo, mesmo indireto, traz riscos à saúde e pode até mesmo causar
câncer. A Agência Pernambucana de Meio Ambiente (CPRH) começou a coletar a água
do mar em praias atingidas. As amostras serão enviadas para Universidade
Federal de Pernambuco (UFPE).
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