Mãe de menina com larvas na cabeça está com medo de ser linchada
Uma menina de sete anos foi internada no último dia 4 de outubro no Hospital Irmã Dulce, em Praia Grande (SP), com uma lesão causada por parasitas na cabeça.
O médico veterinário Fabiano Miranda, de 39 anos, que acompanha o caso desde o início, disse que a criança teve mais de 40 larvas retiradas da cabeça.
“Nas primeiras 24h, ainda na UPA, tiraram mais de 40 larvas. Mas ela precisava de uma transferência para atendimento especializado, porque já havia larvas mais profundas que continuavam comendo a cabeça. Então divulguei nas redes para que ela fosse transferida ao Hospital Irmã Dulce”, explica.
Fabiano foi chamado pela enfermagem da UPA, já que a “berne” é uma larva que aparece principalmente em animais. “Essa doença causa vários estragos”, diz.
A doença é causada pelos ovos da mosca, que, quando depositados em ferimentos abertos na pele do animal ou do ser humano, se tornam rapidamente larvas.
“Quando se trata de mosca, na cabeça de criança, normalmente se dá por ferimento causado por piolho. Mas a mãe relatou que a criança não tinha nenhum piolho, então é possível ela ter batido a cabeça de alguma forma, causando o ferimento. Como a menina tem um cabelo mais cheio, dificultou que a mãe visse o ferimento”, explica.
De acordo com o médico veterinário, após a criança reclamar de fortes dores de cabeça, a mãe encontrou os buracos.
“Não foi negligência da mãe, em momento algum. Ela notou o ferimento e levou a menina rapidamente ao hospital. A primeira vez que vi fiquei desesperado, a criança chorava demais, porque o bicho se alimenta de carne e estava comendo a cabeça dela.”
O neurocirurgião João Luis Cabral afirma que essa larva chamada ‘berne’ é comum nos animais, mas pode ser transmitida ao ser humano. “Esse parasita normalmente aparece na população mais carente, com falta de saneamento básico, que não tem assistência médica”.
Um dos vizinhos da família da criança, que preferiu não se identificar, relatou que eles vivem em vulnerabilidade social e que a menina primeiro apresentou um ferimento aberto na cabeça, o que teria permitido a entrada do parasita.
Ameaças
Circulam nas redes sociais e grupos de WhatsApp mensagens que culpam a mãe pelo estado de saúde da filha e estimulam agressões físicas. A mulher, que prefere não ser identificada, diz estar com medo de sair na rua.
“Como é que a própria mãe permitiu que a saúde da filha fosse comprometida a esse ponto? Essa mulher não dá banho nem limpa a criança? Isso não é mãe, é um monstro”, diz um dos comentários que acusa a mãe.
Tudo começou após a mulher, de 41 anos, divulgar o caso nas redes sociais em busca de ajuda. “Estou com muito medo, porque tem pessoas querendo me linchar pelo que aconteceu com a minha filha. É muito complicado. Além de passar por toda essa situação com ela, ouvir comentários desse tipo, tão horríveis, me fazem mal”, desabafa a mulher.
A mãe relatou também estar acompanhando de perto a melhora da filha. “Foi muita oração e muita fé. Assim que vi a ferida na cabeça dela, fui correndo ao médico. Fiquei apavorada, comecei a chorar, mas não saí do lado dela desde então. A minha prioridade é cuidar dela. O mais importante para mim é que minha filha fique bem. Eu a amo muito”, acrescenta.
Ainda segundo o médico João Luis Cabral, “o que tem que ser feito é uma cirurgia para limpeza, tirar todos os parasitas, lavar com o antibiótico, para poder retirar e fechar; se não tratar, a infecção se alastra e pode ir consumindo o paciente, levando a pessoa a óbito”.
De acordo com as últimas informações divulgadas pelo Hospital Irmã Dulce, a criança já teve todas as larvas retiradas da cabeça e não corre mais risco de morte.
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