A transformação que vem do encontro com o outro
Quanto a mim a afirmativa é real. Admiro-me quando observo o quanto sou transformada e o quanto aprendo a partir dos encontros que tenho. Principalmente, quando me abro para acolher os impactos que as ideias e sentimentos do outro me causam. Um dia desses, ouvi uma partilha que me fez compreender melhor o que estou afirmando.
Falando sobre relacionamentos, um amigo fez a seguinte reflexão:
“Você já observou a diferença que há entre as pedras que estão na nascente de um rio e as que estão em sua foz?”. Balançando a cabeça eu disse que não e ele me explicou: “As pedras na nascente são cobertas de lodo, pontiagudas e cheias de arestas. Na medida em que elas são carregadas pelo rio, sofrendo a ação da água e se atritando com as outras, também são polidas, desbastadas. As arestas somem; ficam mais orgânicas, mais suaves, lisas e, o melhor, ficam cada vez mais parecidas com as outras, sem necessariamente serem iguais. Quanto mais longo o curso do rio, mais transparece a mudança”. Depois disso, compreendi onde ele queria chegar, mesmo assim ele completou: “A mesma coisa acontece conosco se nos abrimos corajosamente aos relacionamentos profundos. O “Rio da Vida” nos conduzirá entre um atrito e outro (contato com o próximo) eliminando arestas, desbastando diferenças e, harmonizando-nos uns com os outros, sem necessariamente perdermos nossa identidade, nossa essência”.
Passar pela vida sem relacionamentos profundos é o mesmo que não sofrer transformação
Pensando bem, essa é uma verdade inegável. Claro que, alguns relacionamentos nos deixam marcas (digamos que negativas): tiram lascas e, pode ser, que tirem pedaços de nós. Mas, um coração sem marcas é um coração que não amou, não viveu. Um coração que não chorou, nem sentiu dor é um coração sem vida, sem sentimentos. Sentimentos, já dizia o poeta: “são o tempero de nossa existência”; sem eles a vida seria monótona e árida. Passar pela vida sem se relacionar profundamente, sem permitir ter sentimentos, é o mesmo de não crescer, não se deixar transformar; é começar e terminar a existência com uma forma bruta, sem brilho, sem vida.
Carrego várias marcas de pessoas importantes que passaram ou permanecem na minha vida. No contato com elas, fui tomando a forma que tenho, muitas arestas foram eliminadas. Transformaram-me em alguém melhor, mais suave, mais equilibrada. Outras, com suas ações e palavras, criaram em mim novas arestas, que precisam ser desbastadas pelos que virão. Faz parte do jogo! Podemos chamar isso de experiências válidas. Quem disse que na vida a gente só ganha?
Somos capazes de amar
O escritor Cearense, Paulo Angelim, falando sobre nossa transformação a partir dos relacionamentos, diz:
“Os seres de grande valor percebem que, ao final da vida, foram perdendo todo os excessos que formavam suas arestas, se aproximando cada vez mais de sua essência e ficando cada vez menores. Quando finalmente aceitamos que somos pequenos, dada a compreensão da existência e importância do outro e, principalmente, da grandeza de Deus, finalmente nos tornamos grandes em valor. Já viu o tamanho do diamante? Sabe o quanto se tira de excesso para chegar ao seu âmago? É lá que está o verdadeiro valor”.
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