Crise de gerações é um dos fatores, diz especialista que trabalha há 20 anos com idosos
Kelen Galvan
Da redação
Da redação
Envelhecer não é um processo fácil. Embora faça parte do dia a dia, a maioria das pessoas não pensa que está envelhecendo e nem se prepara para essa fase da vida, marcada por muitas mudanças e desafios.
Esta quarta-feira, 15, data em que se recorda o Dia Mundial de Conscientização da Violência contra a Pessoa Idosa, é uma oportunidade para entender que o idoso precisa ser respeitado e valorizado, e que a violência contra ele vai além da agressão física.
Segundo dados da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos, em 2015, foram registrados 32 mil casos de denúncias relacionados a pessoas idosas. Os números representam 24% do total de relatos feitos no Disque 100 – Disque Direitos Humanos.
Dentre esses casos, a negligência está no topo dos tipos de violações, seguido pela violência psicológica, o abuso financeiro-econômico, a violência patrimonial e, por último, a violência física.
De acordo com a coordenadora do Programa de Extensão Universitária “Espaço Avançado: Participação e cidadania para pessoas idosas” da Universidade Federal Fluminense (UFF) e assistente social, Maria Carmen Alvarenga, as maiores causas dessa violência contra o idoso vêm da própria cultura social e familiar, que o vê como inútil, desatualizado e descartável.
“Há impaciência e desvalorização das opiniões dos idosos, que muitas vezes são desqualificadas ou desrespeitadas nas questões familiares ou em escolhas simples como, por exemplo: que programa de televisão ou rádio deseja acompanhar ou ainda o local de moradia”, exemplifica Maria Carmen, que trabalha há quase 20 anos com idosos.
Ela acrescenta que essas questões são agravadas, quando estão presentes o uso de álcool e drogas, desemprego, baixa escolaridade, histórico de relações familiares violentas e o grau de dependência entre os familiares e a pessoa idosa.
A especialista acredita que a crise de gerações seja um fator que pode gerar violência, principalmente em questões como mudanças de valores e costumes, preconceitos e os avanços tecnológicos.
Maria Carmen lembra que hoje há uma crise valores éticos na sociedade, em geral, uma mudança de costumes que confronta com valores apreendidos pelos idosos. Existem ainda os preconceitos, seja em relação à velhice, seja dos idosos para com os mais jovens.
“Preconceitos do tipo idoso é chato, ranzinza, esclerosado e obsoleto”, em contrapartida, ela comenta que também escuta comentários como “os jovens são cabeça de vento, mal educados, não sabem nada da vida”.
E por fim, a dificuldade dos idosos de acompanhar o ritmo acelerado das mudanças tecnológicas, de acessar programas de computador, celulares e mídias sociais, o que acaba aumentando a “distância” entre as gerações.
“Tudo isso pode gerar dificuldades de convívio, que agravadas pela falta de diálogo e respeito mútuo poderiam levar à variadas situações dos diversos tipos de violência”, alerta a especialista.
Como lidar com as diferenças de gerações
Maria Carmen aponta como caminho para a boa convivência entre jovens e idosos, “descobrir a riqueza das trocas” e desmistificar os preconceitos mútuos.
Os mais velhos com suas histórias de vida, que testemunham uma época com tamanha riqueza de detalhes que não constam em nenhum livro ou filme do passado. E, por sua vez, os mais jovens, com sua energia, o olhar curioso, suas novas ideias e, quem sabe, uma “ajudinha” na hora de lidar com os celulares e toda “parafernália” tecnológica.
“Eu não me lembro bem que autor afirmou que ‘a gente envelhece o que a gente é’. Não é o envelhecimento que me faz ser ranzinza, autoritária, provavelmente eu já tinha estas características e vou envelhecer assim se não me questionar. Na vida temos muitas oportunidades de nos rever, perceber nossas falhas e buscarmos a mudança de caminho, principalmente se tivermos um relacionamento próximo com Deus. Conheço idosas que são meninas alegres e meninas que são velhinhas ranzinzas”, destaca.
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