Às vésperas do Dia Mundial de Combate ao Trabalho Infantil, psicóloga elenca os prejuízos que o trabalho acarreta para crianças
Monique Coutinho
Da Redação
Da Redação
O número de crianças que trabalham no Brasil ainda é preocupante. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) divulgada pelo IBGE, de 2013 para 2014, a quantidade de pessoas entre 5 e 17 anos que trabalham é mais de 3,3 milhões, com aumento de 4,5%. De 2014 até os dias atuais, esse número caiu, mas a quantidade ainda é preocupante. O Dia Mundial de Combate ao Trabalho Infantil é celebrado neste domingo, 12.
No Brasil estão registrados mais de 204 milhões de habitantes, deste valor, 8,1% são crianças que exercem algum tipo de serviço. Segundo a psicóloga Angeliane dos Santos Dias, as crianças que exercem alguma ocupação, remunerada ou não, correm o risco de desenvolver algum déficit em suas habilidades afetivas e no comportamento geral.
“O desenvolvimento afetivo exige um processo de aprendizagem, mediadores, ferramentas e um ambiente adequado. As crianças que trabalham costumam apresentar sérios problemas de saúde, como fadiga excessiva, distúrbios do sono, irritabilidade e problemas de crescimento”, afirma.
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Além disso, Angeliane diz que existe o impacto psicológico, que depende do contexto social do trabalho exercido. “É mais visível na linguagem e nos relacionamentos. Muitas crianças são os maiores responsáveis pela renda familiar e através de uma inversão de papéis se tornam chefes de família, dificultando mais ainda o seu convívio com outras crianças.”
Crianças e adolescentes ocupados
Nos quatro cantos do país, ao invés de estarem na escola, crianças são vistas em algum tipo de trabalho. Em 2014, 10,2% de crianças e adolescentes trabalhavam na região Sul; já no Norte, a quantidade cai para 9,2%; no Nordeste o número é 8,7%; no Centro Oeste, 8,2% e a região com menor índice de trabalho infantil é o Sudeste, com 6,8%.
A psicóloga observa que há uma queda no desempenho escolar da criança que trabalha, uma vez que além de chegar cansada na escola, ela muitas vezes não consegue assimilar os conhecimentos passados para desenvolver as habilidades e competências. “Não tem tempo de estudar em casa e participar do reforço escolar. Quanto mais dificuldades encontrar para entender o conteúdo, menos vontade terá de participar da aula, o que leva, muitas vezes, ao abandono dos estudos.”
Trabalho desde pequena
Quando tinha 11 anos, Lúcia de Fátima Ramos Ribeiro sofreu com as exigências da patroa. Apesar da pouca idade, ela precisou trabalhar para auxiliar na renda de sua família, que era composta por 10 pessoas: ela, seus pais e mais sete irmãos menores.
Dona Lúcia conta que não tinha horário para sair do trabalho e que isso acontecia só quando a dona da casa permitia. “O trabalho prejudicou os meus estudos, porque eu chegava cansada, um dia eu ia bem tarde, outro dia saía um pouco mais cedo. Chegava em casa não conseguia fazer os deveres, mas o que eu podia fazer eu conseguia, mas era muito difícil o aprendizado na escola, porque eu estava cansada, ia com fome e ficava pensando que chegando em casa tinha que arrumar cozinha, fazer isso e aquilo…”
A dona de casa afirma que o próprio pai a colocou para trabalhar e que não tinha escapatória. Lúcia tinha o apoio da mãe, que sempre falava que os estudos deveriam vir em primeiro lugar. Apesar disso, o que prevalecia era o rigor do pai.
Consequências do trabalho infantil
A criança que é privada dos processos de aprendizagem irá, consequentemente, ter seu desenvolvimento motor cognitivo prejudicado, alerta a psicóloga. “Ela terá dificuldade para realizar tarefas que condizem com sua faixa etária por não vivenciar isso no dia a dia. Atividades simples como montar um quebra-cabeça ou pular corda se tornam extremamente difíceis. A coordenação motora é prejudicada, pois é desenvolvida através do brincar e a coordenação motora fina é trabalhada no ambiente escolar”.
A psicóloga observa que, com o abandono dos estudos, a criança terá cada vez mais dificuldade em conseguir um emprego melhor futuramente, uma vez que não terá habilidades e competências para desempenhar outras funções. “Por isso acabam ficando no mesmo emprego por anos, muitas vezes até o fim da vida”, conclui.
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