A declaração feita por padre Marcelo Rossi em entrevista ao EXTRA, na última segunda-feira, de que não teve acompanhamento médico e nem recorreu a remédios para curar a depressão levantou uma discussão sobre o tema. O especialista Egídio Nardi, do Instituto de Psiquiatria da UFRJ, explica que ainda há muito preconceito em relação às doenças mentais e é taxativo a respeito da depressão: "A cura espontânea não existe".
— Quando as pessoas têm um problema no coração, no fígado ou nos rins, não pensam duas vezes antes de procurar tratamento. Mas quando se trata de uma doença psiquiátrica, acham que é fraqueza ou questão de força de vontade — diz o psiquiatra, que faz um alerta: — Depois que a pessoa tem o primeiro episódio depressivo, há 50% de chances de ter o segundo. Após o segundo, as chances de se ter o terceiro são de 75%. Depois do terceiro, certamente outros virão. Só o tratamento diminui essas chances.
A depressão de padre Marcelo foi desencadeada por um acidente na esteira de corrida, em 2010. Ele quebrou a perna, ficou numa cadeira de rodas por seis meses usando anti-inflamatórios e ganhou peso. Diante dos comentários dos fiéis sobre seu sobrepeso, o homem sempre atlético, formado em Educação Física, acabou desenvolvendo uma anorexia: medindo 1,95m, passou dos 125kg para cerca 60kg. Hoje aos 80kg, o padre reconhece que passou por episódios depressivos mas diz que está curado, e atribui a melhora à fé.
“A oração foi a minha salvação. Não tive acompanhamento médico e também não usei remédio antidepressivo, só minha conexão com Deus”, disse ele na entrevista.
Para o dr. Egídio, a religiosidade ajuda no tratamento, mas não basta por si só.
— Fé e pensamentos positivos ajudam não só nas doenças, mas a vencer as dificuldades do dia a dia. A fé é importante, mas o tratamento médico também, e a fé ajuda inclusive no tratamento médico. São coisas que devem se complementar, e não se anular.
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