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A "dark net" é usada como meio de comunicação e como fonte de fornecimento de droga, o que representa um dos grandes desafios das políticas de luta contra os estupefacientes
O tráfico através da internet é uma das principais preocupações das autoridades europeias na luta contra a droga. A Polícia Judiciária está atenta aos mercados virtuais e tem, inclusive, algumas investigações em curso nesta área. O problema foi reconhecido ontem pelo comissário europeu das Migrações, Assuntos Internos e Cidadania, Dimitros Avramopoulos, que anunciou para a próxima semana uma "reunião de peritos" para "elaborar um plano de cooperação" entre os Estados membros da UE e os outros países "para combater a utilização da internet como meio de distribuição de drogas na UE".
Na apresentação do "Relatório Europeu sobre Drogas 2016: Tendências e Evoluções" pelo Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência (EMCDDA, na sigla de língua inglesa), em Lisboa, Dimitros Avramopoulos sublinhou que "com as novas drogas e os novos padrões do seu consumo, da sua produção e distribuição, nomeadamente, através da internet, há impactos significativos para a saúde pública, que é necessário enfrentar e combater". Ao DN, fonte da PJ frisou que a "investigação que envolve a internet é complexa" e, por isso, estão neste momento a ser formados profissionais que possam intervir nesta área.
"Estamos atentos na monitorização de sites onde se vendem drogas. Há investigações em curso nesta área com a ajuda dos nossos parceiros europeus e de fora da Europa. É necessária muita cooperação internacional", disse ao DN a mesma fonte. No que diz respeito às novas substâncias psicoativas, o problema torna-se ainda mais difícil de resolver. "Do dia para a noite não só mudam os servidores, como as próprias subs-tâncias. Basta alterarem uma molécula." E se não fizerem parte da lista de substâncias proibidas, a PJ deixa de poder atuar. "É uma luta complicada, mas há um grande investimento na área."
A garantia de confidencialidade será uma das principais razões para o crescimento dos mercados virtuais na internet e na dark net. "As pessoas não se expõem a situações em que podem ser intercetadas pela polícia, no contacto com o dealer. Isso pode exercer alguma atração", afirma João Goulão, presidente do Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD).
Aumento de mortes por overdose
Além da banalização do comércio de substâncias ilícitas na internet, o ressurgimento do consumo do ecstasy, depois de um período de declínio, 98 novas drogas sintéticas detetadas na União Europeia (UE) só no ano passado e um aumento do número de mortes por overdose, sobretudo por heroína, são algumas tendências do atual consumo de drogas na UE.
"O problema das drogas não está a diminuir", admitiu o comissário europeu das Migrações, Assuntos Internos e Cidadania.
O mercado de droga europeu "continua resiliente e com alguns indicadores de aumento de consumo, sobretudo de canabis e drogas estimulantes", pode ler-se no relatório, cujas principais conclusões foram resumidas na sessão pelo diretor do EMCDDA, Alexis Goosdeel.
"Os dados mostram que há um maior nível de pureza na maioria das substâncias ilícitas que estão a ser consumidas", sublinhou o responsável, notando que esse é o caso da heroína e de outros opiáceos. A heroína, foi, de resto, responsável pela maioria das 6800 mortes por overdose, registadas em 2014, e que ocorreram "sobretudo nos países do Norte da Europa", adiantou Alexis Goosdeel, notando que "as novas substâncias em circulação representam novos problemas para a saúde".
Este aumento no número de mortes por overdose de heroína ocorre, sobretudo, no Norte da Europa. "Em Portugal, mantém-se a tendência de diminuição do consumo de heroína", adianta João Goulão. Embora de 2013 para 2014 se tenha verificado um aumento nas mortes por overdose (de 22 para 33), o presidente do SICAD destaca que "em termos absolutos, os números são muito baixos".
Entre as tendências preocupantes de que dá conta o documento, está o aumento do consumo de MDMA, vulgarmente conhecida como ecstasy, mas o relatório aponta igualmente "um ligeiro crescimento no consumo estimado das drogas mais comuns", a par de "um aumento da complexidade do mercado de drogas", com o surgimento de novas substâncias, "padrões de policonsumo" e crescentes dificuldades do seu controlo devido à comercialização através da internet e ao facto de a própria produção das substâncias sintéticas ilícitas, nomeadamente a canabis e seus derivados, estar a ocorrer na própria Europa.
O surgimento de novas drogas é outra das tendências em crescendo na Europa. Só no ano passado foram detetadas 98 dessas substâncias, através do sistema de alerta rápido (EWS) da UE para esse efeito. A maioria desses produtos são canabinoides e catinonas sintéticos, que constituem também o grosso das apreensões destas novas drogas - eram mais de 60% das quatro toneladas apreendidas em 2014.
Uma das principais preocupações com estas novas substâncias sintéticas - atualmente estão a ser monitorizadas pelo Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência 560 destas drogas novas - é o seu potencial risco para os consumidores, porque algumas delas são altamente tóxicas.
"Os jovens consumidores podem estar a ser involuntariamente usados como cobaias de substâncias cujos potenciais riscos para a saúde são praticamente desconhecidos", alerta o relatório.
 
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