Está prevista para esta terça-feira, 09, a votação no Senado Federal do
Projeto do Lei que obriga os planos de saúde a cobrirem tratamentos fora
da lista da Agência Nacional de Saúde Complementar (ANS).
A proposta já passou na Câmara em votação simbólica realizada na
última quarta-feira. Para comentar sobre o assunto o Jornal da Manhã, da
Jovem Pan News, entrevistou a advogada especialista em Direito da Saúde
e Presidente da Comissão de Direito Médico e de Saúde da OAB-SP,
Juliana Hasse. A especialista alertou que a nova legislação pode
acarretar em aumento dos planos por parte das operadoras, mas ponderou
que os reajustes devem ser justificados: “Existe a expectativa do
aumento acontecer sim. Quando você começa a ter que cobrir muito mais
coisas do que está no rol, as operadoras tem uma justificativa. Até
quando você tem alta sinistralidade do que está no rol, você já tem uma
probabilidade de aumento. A possibilidade de aumentar existe sim, mas as
operadoras têm que justificar sempre como elas chegaram ao reajuste,
têm que justificar de forma técnica, não pode ser automático ou por uma
expectativa de alta utilização. Às vezes você nega um procedimento que
não tem cobertura e você vai ver e ele é menos custoso do que um que tem
cobertura. Cabe uma inteligência quando você vai fazer essa
administração de saúde”.
A advogada também detalhou mais a fundo o projeto que deve ser
aprovado no Congresso Nacional e declarou que acredita que as mudanças
serão benéficas: “Com esse Projeto de Lei, ele ficou muito semelhante ao
julgamento do STJ. Então, você precisa ter mais justificativa, atender
requisitos e critérios que foram estabelecidos no julgamento, e que o
texto do PL segue muito semelhante, para conseguir a cobertura de
procedimentos que estejam fora do rol. Deve haver comprovação da
eficácia à luz da ciência, baseada em evidências científicas, plano
terapêutico, recomendação da Comissão Nacional de Incorporação de
Tecnologias do SUS (Conetec) e recomendação de, no mínimo, um órgão de
avaliação de tecnologias em saúde de renome internacional. Enrijece um
pouco mais os pedidos para cobertura de procedimentos fora do rol”. De
acordo com Hasse, o enrijecimento dos requisitos para cobertura fora do
rol da ANS vai fazer com que os médicos elaborem melhor a necessidade de
certos tratamentos.
“Vai depender muito mais hoje da justificativa médica para você
tentar furar o rol e tentar algo que está fora dele. Vai ter que ser
muito bem embasada e consistente para você ter um maior controle e uma
melhor gestão de saúde, porque a conta volta para o beneficiário, esse
que é o problema. Se você começa a usar tudo a torto e a direito isso
volta na forma de reajuste. O problema não encerra”, declarou. Para a
especialista também é importante que a própria sociedade se mobilize
pela inclusão de tratamentos específicos que não são cobertos pelas
operadoras de planos de saúde: “A lei prevê a cobertura das doenças
listadas no CID. A discussão é se é só o que está no rol ou não. Pelo PL
você iria pela recomendação do médico para ver se a doença tem
cobertura. Agora, eu vejo que um caminho é a própria sociedade
pressionar o órgão que decide isso, que é a própria ANS, para que se
torne mais ágil a incorporação dos procedimentos.
Recentemente, a ANS tirou a limitação de sessões de fono e terapia
para pessoas portadoras de transtornos psiquiátricos, incluindo
transtorno do espectro autista. Foi um avanço muito grande porque isso
gerava uma angústia muito grande na sociedade. A gente tem que ir por
esse caminho ao invés de bater só na judicialização”.
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