Embora o governador Rui Costa (PT) e o prefeito ACM Neto (DEM) tenham deixado suas diferenças de lado, dizendo que política é política e no Carnaval prevalece a responsabilidade para garantir o sucesso da festa, por trás da folia o que imperou foi a disputa política a ser travada em 2016 e 2018.
Os dois entraram para valer na briga pelo protagonismo do Carnaval - uma megafesta que atraiu cerca de 700 mil turistas, segundo o Ministério do Turismo, e deve movimentar R$ 1 bilhão, sendo R$ 750 milhões só em Salvador.
A rixa entre os dois começou na véspera do evento. Responsável pela organização da festa, o prefeito cobrou uma dívida de R$ 2,5 milhões do estado ainda do Carnaval de 2014.
O governador respondeu dizendo que ia injetar na folia deste ano R$ 66 milhões em segurança, saúde e no receptivo turístico. De quebra, disse que quer participar mais da organização do evento e anunciou que vai patrocinar, em 2016, o Afródromo - projeto do cantor Carlinhos Brown para os blocos afros em um novo circuito, no Comércio.
O prefeito, que acabou não vendo nem os cerca de R$ 4 milhões que contava receber do governo neste Carnaval, não baixou a guarda. Diz que se o estado está disposto a investir R$ 20 milhões no novo circuito da festa é bem-vindo. Porém avisa que não pode é "dividir o que já existe, mas somar para ter mais".
Dito isso, incluiu no circuito da festa o cantor Igor Kannário - considerado a voz do gueto, da periferia (o reduto tradicional do PT), mas que é visto com reserva pela polícia, para quem a sua música incita a violência.
Como esse pagode vai acabar não se sabe. O fato é que Neto e Rui, cada um a seu estilo, trataram de capitalizar os holofotes e a projeção - traduzidos em votos - que essa megafesta pode proporcionar.
Carnavalesco nato, o prefeito curtiu os dias de folia numa rotina que começava às 10 horas e se estendia até quatro da manhã. Subiu nos trios dos Filhos de Gandhy, de Durval Lélis, deu palhinha com Daniela Mercury na abertura oficial da festa e foi ao tradicional almoço na casa de Gilberto Gil.
Na segunda-feira, no Campo Grande, Neto foi saudado pelo cantou Igor Kannário - autor dos sucessos Tudo nosso, nada deles e Lá vem a zorra - com a frase "tô ligado que o prefeito é barril". Na terça, subiu no trio de Alinne Rosa e dançou pagode com a cantora.
"A grande diferença é fazer por naturalidade, de um lado, o cumprimento do dever como prefeito e, do outro lado, a curtição do folião", afirmou Neto, dizendo que a nota principal deste Carnaval foi a presença das pessoas nas ruas.
Discreto em seu primeiro Carnaval como governador, Rui Costa participou da abertura da festa ao lado de ACM Neto, na quinta-feira. Foi à saída do Olodum (Pelourinho) e visitou vários camarotes no circuito Dodô (Barra-Ondina) e marcou presença no camarote oficial do governo, no Campo Grande.
Na noite de sábado, na saída do Ilê Aiyê, no Curuzu, recebeu vaias, assim como o prefeito ACM Neto. Mas o governador teve o dissabor de ouvir gritos de "assassino", pela morte de 12 jovens pobres e negros do bairro do Cabula, num confronto com a PM.
Aguardado na terça-feira, para sair no bloco Filhos de Gandhy, no Pelourinho, Rui não apareceu. Segundo sua assessoria, deveu-se a cansaço pela extensa agenda na véspera, incluindo a ida a Barreiras, onde foi prestigiar o Carnaval do oeste baiano.
Mas o governador gostou do acolhimento do folião. "A receptividade foi extremamente positiva. Pude ver confiança e esperanças no governo", disse Rui, propondo, para 2016, um Carnaval mais democrático, com blocos sem cordas.
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