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Nestes últimos meses, com a pandemia do novo coronavírus, as famílias têm vivido um momento incomum. Com as escolas fechadas, os pais precisam conciliar o trabalho home office com os cuidados com as crianças. Diante disso, o acesso aos dispositivos eletrônicos, antes mais restrito, tornou-se mais flexível.

Psicóloga Adriana Rozenowicz / Foto: Arquivo pessoal

A psicóloga Adriana Rozenowicz, especialista em avaliação psicológica, afirma que, diante desta realidade atípica que a sociedade vive, essa flexibilização é importante, entretanto, deve haver limites no tempo que a criança está exposta às telas, atenção ao seus comportamentos e ter uma rotina bem estabelecida.

O tempo de utilização dos dispositivos eletrônicos pelos pequenos sempre foi alvo de reflexões entre os pais e educadores. Segundo as determinações da Organização Mundial de Saúde (OMS) e da Sociedade Brasileira de Pediatria, crianças até 2 anos não devem ter nenhuma exposição às telas; para crianças de 2 a 5 anos, o tempo máximo é de uma hora; e de 6 a 10 anos, duas horas.

Contudo, a psicóloga destaca que, com este tempo de pandemia, está fora da realidade achar que uma criança de cinco anos terá acesso a apenas uma hora de tela por dia. Mesmo porque a maior parte das escolas está utilizando o espaço virtual para transmitir seus conteúdos.
Intoxicação digital

Adriana Rozenowicz afirma a intoxicação digital é o efeito mais frequente do excesso de telas. Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria, os sintomas dessa intoxicação são os psicológicos (ansiedade, irritabilidade, agressividade) e os físicos (com excesso de sedentarismo, má postura, problemas de visão, de audição etc). Ela destaca que, além disso, há também as questões sociais como o cyberbulling e uma exposição precoce a questões de sexualidade.

    “Crianças até cinco anos têm que ser muito monitoradas e controlado o tempo de exposição às telas.”
    Adriana Rozenowicz

Uma pesquisa indiana sobre o impacto da quarentena na saúde das crianças, divulgada em junho, apontou que 65% dos pequenos ficaram viciados em dispositivos eletrônicos, enquanto que 50% deles não puderam ficar longe dos seus aparelhos por nem 30 minutos.

O estudo foi realizado por médicos do Hospital JK Lone, em Jaipur, na Índia, com 203 crianças — 55% meninos e 45% meninas. A pesquisa de amostra apontou que, além da dependência, houve aumento na obesidade e no padrão de comportamento irritável.

A psicóloga alerta que é preciso ter cuidados e observar as alterações de comportamento nas crianças. “As crianças podem começar a ficar mais ansiosas, ou deprimidas e isoladas. Isso seriam características de um adoecimento psíquico que pode ter sido causado por excesso de tela. Então, a gente tem que ter muito cuidado. E crianças até cinco anos têm que ser muito monitoradas, e controlado esse tempo de exposição”, enfatiza.
Jogos eletrônicos

Em relação ao excesso do uso de jogos eletrônicos, a especialista destaca que algumas pesquisas apontam que eles são, de fato, viciantes, por liberarem serotonina, dopamina e outros hormônios de prazer. E defende que é preciso reduzir o tempo de exposição a eles.

    “É importante que os pais conversem com a criança, sempre dando opções e entendendo que ela faz escolhas.”

“Precisa usar com controle. Não tem como impedir, mas dá para controlar. E esse controle tem que ser negociado com a criança, de acordo com cada faixa etária. É importante que os pais conversem com a criança, sempre dando opções e entendendo que ela faz escolhas”, explica.

Uma sugestão é usar o “ou se”, com o intuito de fazer a criança escolher. “Por exemplo: ‘Ou você fica usando duas horas por dia o jogo ou eu serei obrigada a tirar o jogo no dia seguinte’. Aí, se a criança extrapolar, no dia seguinte não terá jogo. A criança pode chorar, ficar com raiva, fazer birra, mas os pais devem ficar firmes e dizer: ‘você escolheu isso’. Isso é importante. Implicar a criança no processo de escolha, ela entender que é uma escolha dela, e dar esse limite”, esclarece.
Rotina estabelecida

Para lidar com essa realidade, a especialista indica a importância de ter uma rotina bem definida com as crianças. “É preciso estabelecer uma rotina onde a criança tenha o tempo de tela, mas tenha pausas onde ela possa naturalmente brincar muito”, aponta.

Rozenowicz destaca que é preciso estimular as crianças a fazerem outras atividades fora das telas, devido aos efeitos nocivos que esse excesso de exposição têm sobre elas. “Elas estão em fase de desenvolvimento neurológico, e a gente sabe que isso pode interferir nesse desenvolvimento, nas conexões cerebrais”.

    “É preciso estabelecer uma rotina onde a criança tenha o tempo de tela, mas tenha pausas onde ela possa naturalmente brincar muito.”

Ela enfatiza que esse controle é muito importante, e que os pais podem oferecer outras alternativas, como jogos de tabuleiro ou convidá-las para ajudar nas atividades de casa. “As crianças gostam de se sentir úteis, produtivas. Então, é importante que, dentro da nossa rotina em casa, por mais que esteja difícil, a gente consiga ter momentos para estar com essa criança. Ela precisa de atenção”.

Outro ponto fundamental é manter uma alimentação adequada e uma regularidade de sono. “Reduzir o tempo de tela antes de dormir. Duas horas antes de dormir é recomendado não ter mais uso de tela. Pode ter leituras de livros, brincadeiras mais calmas para a criança ir se preparando para a hora de sono”, indica.

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