Apesar do percentual de semelhança elevado entre os coronavírus, há
uma diferença na parte do genoma referente à proteína S -que permite, no
Sars-CoV-2, a invasão de células humanas. No caso do novo parente, a
área não é compatível com os receptores dos seres humanos e os dados da
pesquisa não apontam potencial de infecção.
De toda forma, os pesquisadores, que publicaram o estudo na revista
Nature Communications, nesta terça (9), apontam que mais avaliações são
necessárias para entender a possível gama de hospedeiros, entre eles os
humanos, dessa sublinhagem.
Um ponto curioso é que, apesar da semelhança entre o coronavírus
encontrado no Camboja e o Sars-CoV-2, a espécie de morcegos onde o vírus
foi encontrado não habita a China. Isso indicaria, segundo os
cientistas, que parentes do causador da Covid estão mais distribuídos
geograficamente do que se imaginava anteriormente. E, com isso, o
"Sudeste Asiático representa uma área-chave para vigilância de
coronavírus".
Em 2020, os pesquisadores já haviam anunciado que tinham encontrado
vírus semelhantes ao Sars-CoV-2 guardados em freezers no Camboja e
também no Japão. Restava saber, porém, o quão de fato geneticamente
próximos ao causador da Covid esses vírus eram.
Esses não são os únicos parentes do Sars-CoV-2 encontrados pelo
mundo. Entre os outros há, inclusive, primos mais próximos, como os
achados em morcegos do Laos e em uma caverna na província de Yunnan, na
China.
O coronavírus achado no Laos teria uma semelhança genética de 96,8%, e o de Yunnan, de 96.2%.
Apesar de ainda haver algum grau de discussão sobre o assunto,
cientistas afirmam, com base nas evidências disponíveis, entre elas o
maior estudo evolutivo de coronavírus, que a hipótese de origem natural
do vírus é a mais provável. Apesar disso, ainda não foi encontrado o
grupo de animais que pode ter transmitido o Sars-CoV-2 para os seres
humanos.
A forma como o vírus saltou entre espécie também é desconhecida.
Entre as possibilidades estão: a passagem natural de um hospedeiro para
humanos -o "spillover" ou "salto" entre espécies, o que já conhecido em
outros coronavírus- e um contágio indireto através de um animal criado e
comercializado.
"Nosso entendimento atual da distribuição geográfica das linhagens Sars-CoV e Sars-CoV-2 possivelmente refletem uma falta de amostragem no sudeste da Ásia", afirmam os pesquisadores, citando Mianmar, Laos, Tailândia, Camboja e Vietnã, locais onde foram encontrados, até o momento, as amostras mais com genoma mais próximo ao do causador da Covid.
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