Barulhos do corpo: o que eles significam para a saúde
O cientista inglês Robert Hooke (1635-1703) registrou em livro que escutar os sons internos era uma maneira de saber se o organismo estava funcionando conforme o esperado. Hooke, especialista em acústica, acreditava que os conceitos de harmonia e dissonância utilizados na música também se aplicavam à medicina e a diversas outras áreas. Para ele, o fato de um processo fisiológico ser audível significava que algo poderia estar errado, como um instrumento fora do tempo que se destaca dos demais em um concerto.
A análise faz sentido, mas também não é para levá-la ao pé da letra. “Alguns barulhos são normais e esperados, como as flatulências, para citar um exemplo”, comenta a clínica geral Alessandra Rodrigues Fiuza, da BP — A Beneficência Portuguesa, em São Paulo.
E, apesar de o volume alto causar constrangimento, não é ele que denuncia se o organismo está em desalinho. “O que diz se um som deve preocupar é a frequência com que ocorre e se existem incômodos associados a ele”, completa a médica.
Outras notas, contudo, devem chamar a atenção assim que forem executadas. Nos tópicos a seguir, a gente explica como a banda (ou melhor, seu corpo) toca — e quando há indícios de que o show está desafinando.
1) Trovoadas na barriga
O ronco que vem do abdômen é um clássico exemplo de ruído natural. Quando chega a hora de comer, o cérebro, apressadinho, já dispara comandos relacionados à digestão. Entre eles está a peristalse, isto é, a contração involuntária dos músculos do aparelho digestivo — sua função é empurrar a comida goela abaixo.
Isso ocorre várias vezes ao dia, mas aparece de forma mais clara quando estamos famintos. É que, nesse momento, o caminho é ocupado principalmente por líquidos e bolhas de ar, sem alimentos para abafar o eco do reflexo gastrointestinal.
Curiosamente, pessoas magras são as que soltam mais grunhidos, já que a gordura do corpo funciona como isolamento acústico.
Nas profundezas do intestino
Cientistas australianos desenvolveram uma cinta capaz de flagrar a doença inflamatória intestinal (DII). A condição altera as contrações do intestino e a quantidade de gases e líquidos presentes ali. Assim, a música muda: com o dispositivo, o grupo identificou 26 sons que caracterizariam o transtorno. Muitos são imperceptíveis aos nossos ouvidos.
2) Gases à solta
A flatulência, ou simplesmente “pum”, é o sopro mais infame da nossa banda interior. Ela é resultado da eliminação de ar ingerido junto com a comida e também de gases produzidos no intestino a partir da fermentação de açúcares feita pelas bactérias que habitam o órgão.
O corpo humano saudável elimina, em média, 20 deles por dia — inclusive enquanto dormimos. Para nossa sorte, nem todos são audíveis.
Certas condições, contudo, reduzem a velocidade do intestino e promovem acúmulo de gases e desconforto. É o caso da doença inflamatória intestinal, intolerâncias alimentares e desequilíbrios na microbiota.
Opa, fedeu!
Apesar de impactantes, cheiros mais intensos não apontam doenças. Gases fétidos são, na verdade, consequência da composição da microbiota e da fermentação de certos alimentos, como feijão, ovo, carnes, leite e tantos outros.
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