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Última linha contra o coronavírus: trabalho dos coveiros é cada vez maior na pandemia

 

[Última linha contra o coronavírus: trabalho dos coveiros é cada vez maior na pandemia]
Foto : Bruno Concha/Secom/PMS

Por Geovana Oliveira no dia 11 de Março de 2021 ⋅ 15:00

"Tem alguns familiares que olham para nós com olhar de que somos até mesmo inimigos", conta Rafael Rios, que trabalha com sepultamentos no cemitério Campo Santo. No hospital, ainda há esperança, mas ali, no cemitério, é feito o último contato com a vida perdida. "E somos nós os algozes, que não vão mais permitir os familiares a verem seu ente querido". 

Se os profissionais de saúde estão na linha de frente contra a pandemia da Covid-19, os coveiros integram a última - o lugar que ninguém quer chegar. Mas o trabalho deles está cada vez maior. Com o aumento do número de mortes pela doença, a Associação dos Fabricantes de Urnas (Afub) chegou a emitir, na terça-feira (9), um alerta nacional para a possível falta de caixões caso a demanda por enterros continue a crescer. 

Na Bahia, uma média de quatro pessoas por hora morreram em decorrência do coronavírus nos primeiros nove dias de março. Rafael conta que só no sábado chegou a realizar 20 enterros - o maior número registrado no cemitério foi de 25 em um dia, durante o primeiro pico da pandemia, em julho. A alta pode ser observada também nos dez cemitérios públicos de Salvador: antes da Covid-19, a média histórica de enterros girava em torno de 12 por dia, e agora é de 17. 

O supervisor dos serviços no Campo Santo, Ivanei Soares, afirma que os coveiros ficam mais cansados nesse cenário justamente pela pressão emocional, além da maior carga de  trabalho. "Mas os meninos são guerreiros, até o momento eles conseguiram dar conta com bastante eficiência", diz. 

Rafael, que cursa o nono semestre de psicologia, aproveita os estudos para enfrentar melhor o momento. Aos 29 anos, dos quais dez foram dedicados ao trabalho no cemitério, a palavra que ele mais usa é “ressignificar”. Durante a pandemia, tenta ressignificar a morte, o caixão fechado, a distância necessária, e também os EPI - macacão, luva e bota - que precisa usar para se proteger contra o coronavírus. 

“Tem aquelas famílias que têm a negação ainda, de que não foi Covid, de que o médico que colocou - tenta negar na realidade”, conta. “ Parece que é desonroso, para alguns, a pessoa vítima da Covid. Aí a gente explica porque nós usamos o macacão branco, máscara, a luva, e eles têm que ficar à distância. A gente tenta ressignificar”.

Explicado o processo, eles continuam. Desde a pandemia, a forma de enterrar mudou. Alguns poucos familiares podem até acompanhar o caixão, mas de longe. Sem poder carregar ou tocar. Isso para manter a segurança de todos. No cemitério do Campo Santo, Rafael conta que cerca de 12 trabalhadores - entre coveiros, seguranças e administração - chegaram a ser contaminados pela doença. 

Segundo Ivanei, foi solicitado à Prefeitura que os coveiros sejam vacinados junto aos grupos prioritários. No momento, entretanto, apenas trabalhadores da saúde e idosos estão sendo imunizados. Os agentes funerários também chegaram a protestar, em fevereiro, para serem incluídos na vacinação, mas, na ocasião, a Secretaria de Saúde justificou que foram recebidas poucas doses da vacina, e que eles seriam adicionados com a chegada de mais doses. 

Ainda assim, o trabalho aumenta. Na rede pública, a prefeitura de Salvador vai ampliar o número de vagas nos cemitérios: foi feita uma licitação para abrir mais 1.125 gavetas nas necrópoles. De acordo com a Secretaria Municipal de Ordem Pública (Semop), outras 218 ainda deverão ser adicionadas no próximo mês

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