Agentes funerários, geralmente, relatam que a pior coisa de seu trabalho é o momento do fechamento do caixão.
Quando um ente querido morre, é de nossa tradição velar seu corpo madrugada adentro. Com o caixão aberto, parentes, amigos e conhecidos passam para se despedir. O corpo, ali, sem vida, dentro de uma caixa de madeira ornamentada se torna uma imagem, uma memória, uma representação do legado que aquela pessoa deixou em vida. São horas e horas para a ficha cair.
Mas, durante esse ritual, há um momento em que se cai na real. Geralmente, 10 minutos antes do horário marcado para o enterro. Após as liturgias religiosas, um homem vestido de roupa social se aproxima. Ele é o agente funerário e irá trancar o caixão.
Sua presença é notada muito rapidamente. Ele agarra a tampa com calma, os parentes menos exaltados tentam tirar familiares que choram copiosamente sobre o corpo.
Quando a tampa é colocada e o barulho das chaves fechando é ouvido, a ficha realmente cai. Foi a última imagem vista pelos vivos. Seu ente está dentro de uma caixa, será sepultado com terra, areia e cimento. Você nunca mais o verá.
O fechamento do caixão é um dos momentos mais dramáticos de todo o ritual fúnebre que adotamos tradicionalmente. É o terror do agente funerário. É o temor de quem tem pessoas queridas e quer mantê-las vivas.
Após o fechamento, o caixão é carregado em cortejo. Dali para a frente só se ouve o barulho de madeira, pá mexendo em terra, choro e o grito amargo do silêncio de quem perdeu uma parte de si.
Texto - Joel Paviotti
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