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O PERIGO DA IDOLATRIA POLÍTICA


Desde as eleições presidenciais de 2014, observamos que o debate político ficou muito mais acirrado. Por conta das redes sociais, muitos se aventuram em falar sobre política e expressam suas preferências partidárias e/ou ideológicas. Os cristãos evangélicos – uma fatia importante da sociedade – não ficam atrás. Se em décadas passadas evangélico e política eram duas coisas que não se misturavam de jeito nenhum, hoje, existe até uma bancada de políticos que representa a massa evangélica no Congresso Nacional. Pois é, os tempos estão mudados.

Obviamente que o envolvimento político não é algo ruim em si. A política tudo permeia e é por isso que devemos estar atentos a ela. Os cristãos não são alienígenas. Os cristãos são cidadãos que pagam seus impostos e estão inseridos no convívio social, sendo concomitantemente produtores e consumidores no sentido econômico e também cultural. Mas há um detalhe: Estamos no mundo, porém, não pertencemos a ele. A Escritura nos diz que a nossa verdadeira cidadania é no Reino dos Céus, e quem a conquistou para nós foi Jesus Cristo, nosso Senhor e Salvador. Por conta disto, devemos ter um comportamento diferenciado daqueles que são do mundo. É justamente por não observarmos direito esse ponto que estamos pecando em nosso envolvimento político.

A política mundana tomou para si ideologias que fazem de algum elemento da criação aquilo que salvará a humanidade. Vejamos os exemplos: Para o liberalismo, a salvação se dá pela liberdade. O socialismo vai eleger o Estado como seu “messias” e o nacionalismo coloca o povo como salvador de si mesmo. O messianismo político é pecado pelo simples fato de tentar salvar a humanidade deixando de lado o único e suficiente salvador, que é Cristo. Quando um dos elementos supracitados toma o lugar que pertence a Cristo, a política se tornou idólatra. Idolatria é uma abominação e muitos evangélicos não se dão conta que em alguns casos eles idolatram determinado político, partido ou ideologia. Se a esperança do cristão for depositada em qualquer outra coisa que não seja Cristo e a consumação de sua obra na segunda vinda, então ele – infelizmente – já foi envenenado pelo materialismo, que é ambidestro. Acreditando que algum elemento da criação seja capaz de tornar este mundo um lugar ideal, sem mazelas e sem injustiças, ele tira a prerrogativa de Jesus, pois, somente ele enxugará de nossos olhos toda a lágrima. Logo, essa esperança vã deve ser chamada pelo nome que lhe é devido: idolatria.

Em tempo de crise, muitos pendem para um lado e para outro na esperança de ver o Brasil sair do atoleiro de corrupção e má gestão em que se encontra. Não é ilícito desejar por mudança. Não é errado querer mudar. Mas acontece que os crentes estão mais preocupados em eleger “salvadores da pátria” do que dobrar os seus joelhos e interceder ao Senhor dos senhores para que a nossa nação seja curada. Parece também que esqueceram que são o sal da terra e a luz do mundo, pois, vivem em guetos eclesiásticos, nutrem uma subcultura e não promovem os valores do Reino. O Evangelho é para ser vivido, aplicado em qualquer área da vida, a política também está inclusa nisso. As ideologias de esquerda e direita são – ambas – mundanas. O que é espiritual é o Evangelho. Devemos discernir e confrontar todo e qualquer pensamento ideológico através das lentes da Escritura. A nossa cosmovisão, isto é, nossa maneira de ver o mundo, não deve abandonar a confessionalidade. Precisamos olhar para a política sabendo que Cristo é Senhor e que ele tem domínio sobre César, e não o oposto.

Tome muito cuidado, antes de sair por aí dizendo que político ou partido X te representa. Procure assegurar-se de que está usando os óculos certos, os que trazem consigo as lentes da Escritura. Se envolva no debate político, escolha um partido. Só não se esqueça de dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus. Confundir as bolas pode te deixar em maus lençóis com o Soberano.
*Thiago Oliveira é teólogo, especialista em ciência política e membro da Igreja Evangélica Livre


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