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Coronavírus: os detalhes das sete vacinas em testes no mundo


O primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, foi enfático, na semana passada, ao dizer que as pessoas, em todo o mundo, não terão vidas normais enquanto não for descoberta vacina que imunize contra a COVID-19. Nessa direção, foi iniciada corrida internacional para a descoberta científica que terá importante peso para a humanidade, incluindo a saúde e equilíbrio socioeconômico.

A pedido do Estado de Minas, foi feito levantamento exclusivo sobre os estudos mais avançados em todo o mundo. Com a assessoria da virologista Jordana Coelho dos Reis, pesquisadora do Departamento de Microbiologia da UFMG, chegamos a sete estudos para vacinas em fase de testes em humanos. A produção de uma nova vacina passa por etapas: testes in vitro, testes em camundongos e ensaio clínico, sua última fase.

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A base de dados em que são cadastrados os ensaios clínicos mais importantes em todo o mundo é hospedada pela Biblioteca de Medicina do Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos (National Institute of Health – NIH). Trata-se da plataforma clinicaltrial.org. De acordo com os dados públicos dessa plataforma, existem, na atualidade, em todo o mundo, sete vacinas contra a COVID-19 em fase de ensaio clínico, ou seja, em que já estão sendo realizados testes em seres humanos: na China (três), Estados Unidos, Austrália, Reino Unido e uma sem  identificação da localidade no registro.


“As vacinas que o Brasil está desenvolvendo ainda não chegaram em ensaio clínico. Os testes em humanos ocorrem depois que os protótipos vacinais em estudo apresentam eficácia in vitro e em modelo animal, quando estão prontos para ir para o ser humano”, explica Jordana.

A vacina é a melhor maneira de se proteger e lidar com infecções respiratórias, de acordo com o presidente da Sociedade Mineira de Infectologia, Estêvão Urbano. “A principal solução para qualquer infecção viral que tenha poder de causar pandemias é a vacinação em massa. A população desenvolve anticorpos, inclusive com efeito rebanho, em que as vacinadas protegem as não vacinadas”, afirma. Com a vacinação, destaca o especialista, o sistema imune “aprende” a combater e eliminar o micro-organismo. “O vírus não encontra hospedeiro suscetível para ele se multiplicar e perpetuar a infecção. Então, uma vacina seria muito importante, embora pouco provável a curto prazo”, completa Estêvão.

Na quarta-feira, o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, disse que três vacinas contra a COVID-19 estão em fase de testes clínicos. No entanto, na plataforma Clinical Trial, estão registradas sete. Além disso, pelo menos outras 70 estão sendo estudadas, segundo a entidade.

O estudo mais avançado é a partir de uma droga originalmente usada na prevenção ao ebola. A pesquisa é liderada por empresa chinesa com o Instituto de Biotecnologia de Pequim e tem financiamento do Ministério de Ciência e Tecnologia do país asiático.

As bases das vacinas em teste são diferenciadas. Em um dos estudos, a vacina de mRNA é constituída por uma fita de ácido nucleico (RNA) que contém uma mensagem, ou seja, a informação para uma proteína do coronavírus Sars-CoV-2, chamada Spike. Um outro tipo de vacina envolve a aplicação de adenovírus, um vírus atenuado que não causa doença em humano. Uma das vacinas se baseia em um adenovírus modificado expressando a proteína Spike, o que se chama de quimera viral (híbrido de dois vírus). O adenovírus usado pode ser humano ou de chimpanzés.

Depois de entrar na fase de ensaios clínicos, os estudos podem levar ainda de dois a cinco anos para, enfim, as vacinas estarem disponíveis. “As vacinas demoram muito para ser desenvolvidas, em espaço de anos. Para a vacina do ebola, por exemplo, foram cinco anos, o que é um tempo médio bom. Foi até rápido. Esforços mundiais estão em curso para encurtar o tempo de produção da vacina contro o Sars-CoV-2 para um a três anos”, afirma. A necessidade de tempo para realizar a pesquisa científica é fundamental. "As descobertas científicas precisam de muito tempo, muito planejamento e estratégia para que as vacinas funcionem da maneira que a gente quer. Às vezes, vai para estudo clínico e não funciona, apesar de in vitro ter dado muito certo”, explica Jordana.

Apesar de ser chamado de novo coronavírus, a vacina para o Sars-CoV-2 já poderia ter sido encaminhada. A pesquisadora lembra que já havia duas variantes do vírus circulando, os coronavírus Sars e o Mers. “O Sars causa a síndrome respiratória grave. Tivemos um surto na região asiática. O Mers tem taxa de letalidade de 40%. Se o Mers se espalhasse, a crise seria mais grave. No entanto, a transmissibilidade não se compara ao Sars-CoV-2”, diz Jordana. A pesquisadora afirma que o mundo precisa se preparar para vírus letais, investindo em pesquisa e desenvolvimento de vacinas e antivirais antes que as pandemias ocorram.  A melhor chance

Além da vacina, outra forma de combate ao vírus são os tratamentos antivirais. “O vírus é um organismo difícil de ser tratado com medicações específicas. A prevenção é sempre mais efetiva. Proteção pela vacina é muito mais valorosa, quando se pensa em massa populacional”, afirma Estêvão Urbano.

Fora a vacina, a outra forma de imunizar a população seria que cada indivíduo se infectasse para criar anticorpos. No entanto, essa opção é completamente descartada pelos infectologistas como medida de saúde pública em razão de a taxa de mortalidade da COVID-19 ser alta. “É inaceitável. Pela seleção natural, algumas pessoas sobreviveriam e outras morreriam. Daí que vem a importância da medida do distanciamento social. Na tentativa de evitar que, na ausência de vacina e de imunidade, as pessoas, ao se infectar, fiquem sem assistência médica”, conclui o presidente da Sociedade Mineira de Infectologia.

Os virologistas rechaçam a exposição deliberada ao vírus e reforçam que ainda não há droga que minimize os efeitos da infecção. “A vacina é a única forma que a gente tem de conseguir controlar a pandemia”, diz o virologista Flávio Fonseca, pesquisador do CTVacinas, da UFMG. Ele contesta a defesa de que possa ser criada a imunidade de rebanho e a população tenha que ficar exposta ao vírus. “Esse raciocínio não se encaixa. Imagina 1% da população brasileira morrer, considerando que somos 200  mi-    lhões. Então, 1% equivaleria a 2 milhões de pessoas", diz.

Mesmo que se encontre um medicamento para tratamento, o fármaco não impede que a pessoa repasse a doença. “Os medicamentos não impedem o tamanho da epidemia só mitigam os efeitos causados na pessoa doente. A vacina é a única solução para o controle da pandemia”, argumenta.

"A principal solução para qualquer infecção viral que tenha poder de causar pandemias é a vacinação em massa"Estêvão Urbano, presidente da Sociedade Mineira de Infectologia

"Esforços mundiais estão em curso para encurtar o tempo de produção da vacina contra o Sars-CoV-2 para um a três anos”Jordana Coelho dos Reis, virologista e pesquisadora do Departamento de Microbiologia da UFMG

"Os medicamentos não impedem o tamanho da epidemia, só mitigam os efeitos causados na pessoa doente. A vacina é a única solução para o controle da pandemia"Flávio Fonseca, virologista e pesquisador do CTVacinas, da UFMG


Como a COVID-19 é transmitida?
A transmissão dos coronavírus costuma ocorrer pelo ar ou por contato pessoal com secreções contaminadas, como gotículas de saliva, espirro, tosse, catarro, contato pessoal próximo, como toque ou aperto de mão, contato com objetos ou superfícies contaminadas, seguido de contato com a boca, nariz ou olhos.
Como se prevenir?
A recomendação é evitar aglomerações, ficar longe de quem apresenta sintomas de infecção respiratória, lavar as mãos com frequência, tossir com o antebraço em frente à boca e frequentemente fazer o uso de água e sabão para lavar as mãos ou álcool em gel após ter contato com superfícies e pessoas. Em casa, tome cuidados extras contra a COVID-19.

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